Hoje é um dia muito especial para Raul. Por isso, está metido na casa de banho há duas horas e meia para pentear o cabelo. Habitualmente apenas leva cerca de hora e meia para se pentear, mas como hoje é o grande dia, ele tem que parecer elegante. Está radiante, portanto penteou o cabelo dos lados todo para trás e na testa fez uma poupa com quinze centímetros de altura.
Quem o visse pela frente a poupa fazia lembrar um travão aerodinâmico, e por trás, uma rampa de lançamento de mísseis atómicos. Pois é, mas ele tinha que estar o máximo. É que, o director da editora Boa Esperança decidiu por fim aceitar as propos¬tas infindáveis que Raul tinha feito por escrito, para o convencer a ler as suas histórias para crianças.
Finalmente, ao fim de mais meia hora, Raul sai da casa de banho já penteado. Vai para o seu quarto e pega no fato que tem em cima da cama. É a sua melhor peça de roupa. Um fato azul escuro que a mãe lhe comprou para ir ao casamento da tia Rute. O casaco tem uma nódoa na lapela. Foi a prima Rosa, no dia do casamento da tia Rute. A prima Rosa tinha-se empanturrado de pêssegos. Ora, estes pêssegos eram daqueles que vêm em calda e estavam despejados numa terrina que estava em cima da mesa. Mas para já tudo bem. O problema começou quando a prima Rosa foi sentar-se no sofá ao lado do Raul e viu o tio Gustavo a espirrar e a projectar a dentadura para dentro da ter¬rina dos pêssegos em calda. Isto não a incomodou muito. O pior foi quando a tia Matilde gritou:
— Já é a segunda vez que mandas essa merda dessa placa para dentro da terrina dos pêssegos!
Pois bem. Esta foi a derradeira. A visão da placa amarelada do tio Gustavo a boiar na terrina dos pêssegos e o saber que antes de os comer, essa dita placa já lá tinha estado a nadar, fez com que os pêssegos que estavam no estômago dela fizessem uma excursão até à lapela do casaco do pobre Raul. Meu Deus! Foi horrível! Raul correu logo para a casa de banho, não para limpar o casaco, mas para pôr o cabelo todo para a frente. Este era um sinal de que ele estava irritado. A seguir fez um caracol na testa. Este que significava o seu nojo.
Era uma história triste que ele nunca esqueceria. Mas como homem prevenido vale por dois, Raul tinha guardado aquele autocolante que tinha comprado na rua a uns calouros chatos da universidade. Já o tinha há cinco anos. Tinha-o guardado para que todos os anos pela mesma altura pudesse colá-lo na camisa. Assim aqueles tipos chatos pensavam que ele já tinha comprado e deixavam-no em paz. Raul pega no autocolante e cola-o por cima da nódoa do casaco.
Pela primeira vez no dia, olha para o relógio. Já eram quase horas do autocarro! Pega numa pasta que tinha em cima da mesa com a história que elegeu para apresentar ao editor e saiu a correr.
Raul não é gordo, muito pelo contrário, mas desta vez teve que fazer uma certa ginástica para que a sua poupa não batesse na parte de cima da porta e a amachucasse. Após andar alguns metros chegou à paragem e sentou-se à espera. Ao seu lado estão duas velhas alcoviteiras a falar.
— Ai, bocemecê num sabe o que tenhe sido a minha bida — suspirou uma velha.
— Imagino minha senhora, imagino! — disse a outra velha a abanar a cabeça e a morder as gengivas superiores com os três dentes de baixo que lhe restam.
— Não é que o meu marido tem andado outra vez de diarreia? Ainda anteonte estábamos na cama a dormir e de repente ele borra-me toda! Ele nem acordou. Ficou toda a noite com aquele cú virado para cima. Até parecia um repucho! — voltou a sus¬pirar a velha
— Ai minha senhora e a minha nem queira imaginar! A semana passada fiz um caldo de coibes tão gostoso! Era uma formosura e...— De repente a velha repara no Raul, com aquele cabelo e aquela poupa enorme.
— Ai minha Nossa Senhora de Fátima bendita, que Deus nos proteja! A senhora já viu o cabelo do menino Pinha? — sussurrou a velha, enquanto mordia sem parar as gengivas superiores.
— Nossa Senhora! É verdade! O pobrezinho ficou assim desde que lhe morreu a família! Suspirou a velha, de novo.
— Ah, mas ele já tinha a mania do cabelo — diz a velha de boca torcida para a amiga com a mão à frente e a olhar de esguelha para Raul. — Mas não tanto como agora! Pobrezinho! E só tem vinte e seis anos!
— As moças até fogem dele! — sussurrou a velha.
Raul não era nenhum parvo e percebeu logo que aquelas velhas coscuvilheiras estavam a falar mal dele. Já estava a ficar irritado! Se isto continuasse ia ter que mudar de penteado. Talvez fizesse uma espécie de dois pompons na cabeça com um espeto na testa, para mostrar o desprezo que sentia, naquele momento, pelas duas velhotas.
Mas entretanto, chega o autocarro. Raul dá graças a Deus e entra no transporte público. Vai-se sentar num banco virado para trás, porque acha que assim a sua poupa pode resistir melhor ás investidas do condutor. E tem toda a razão. É que o motorista tem um póster do Alan Prost colado na janela, coisa que por vezes lhe dificulta as ma¬nobras mais difíceis, um chapéu com o Ayrton Senna, uma T—Shirt do Schumacher e umas luvas que dizem “Fangio és o maior!“.
A aplicação teórica de assuntos práticos e relativos á questão do ser adjudicado à alma do animal que nasce dentro de todos nós.
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terça-feira, julho 17, 2007
Os Inóticos Capitulo 1 Parte 1
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1 comentário:
grd jukinha ma onda:)) PARABENSSSSSSSSS CAMPEOUUMMM:)) eu n disse q tu tinhas jeito pa coisa?? inda krias tu q eu escreve-se 1blog! so se fosse pa fazer vergonhas ao lado do teu!! tenho uma proposta melhor... fazemos sociedade: eu faço a traduÇao em alemao aki pas vacas suissas lerem o teu blog e sou tua acount manager para gerir tds os dividendos em francos suissos q iras ganhar?? q dizes?? eheheh
es o meu HEROI, mas so a seguir ao rato mickey ta?
bijuus da tua amiga emigra;)
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