O asfalto preto e molhado reflecte a luz branca, morta, do poste de média tensão.
A faiscar no meio das moitas e arbustos, brilham os olhos de alguém que não quer ser nem saber.
Durante vários anos ninguém deu conta da sua existência praticamente rupestre por entre os pedaços verdes das vias rápidas e vias de cintura interna.
Durante os seu tempos entre os comuns mortais, quando se queixava da vida, costumava lamentar-se do facto do seu pai nunca o ter levado às putas.
Isso, segundo ele deu-lhe a desvantagem na vida que reconhecia em relação às suas desavenças e o tenha levado a uma vida sem saída aparente.
Farto da porca vida que levava, da parva existência que tinha, ele porem nunca teve a força de vontade de mudar o que quer que seja até ao dia em que reconheceu por fracções de segundo, o universo paralelo, a dimensão do lusco-fusco na própria fábrica urbana.
Foi numa noite de enfado em frente do cinescópio intermitente de esborratados tons cinzentos, ao lamber o sangue que lhe escorria pelo nariz, que a dor repentina e aguda dentro da cabeça lhe fez disparar a raiva.
Farto de ser um pária, um cretino ignorado pelos seus semelhantes e demais animais domésticos, saltou do sofá de napa beije, porca, badalhoca e coçada.
A noite era de chuva torrencial.
A correr descalço, sozinho pela via de cintura interna, arranca a roupa do corpo, avança o separador central e embrenha-se na selva intermédia para nunca mais voltar.
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