A aplicação teórica de assuntos práticos e relativos á questão do ser adjudicado à alma do animal que nasce dentro de todos nós.

segunda-feira, março 27, 2006

Uma noite igual a outra qualquer.

Numa noite como qualquer outra noite, destas vulgares a que já nos habituamos, no interior dum armazém á beira rio, as luzes estroboscópicas pulsam furiosamente ao som de uma forte batida, enquanto vão iluminando o mar de gente que junto a uma réplica diminuta da estatua da liberdade, dança como que tomada pelo demónio, na pista de soalho desgastado e rasgado pelos copos de vidro partidos.

Num piso superior com vista para a pista, sentado ao balcão do bar a enfardar amendoins como se não houvesse amanhã, está o Nelinho, parolo assumido vestido com a sua camisa branca ás riscas azuis que tenta em vão disfarçar a pança banhosa e peluda, calça justinha espremendo a colhoada já roxa por falta de circulação sanguínea e cabelo geloso lambido para trás. Note-se que o Nelinho é bom mocinho. Um mocinho poupadinho e preocupado com o meio ambiente. Banho é só uma vez por semana e o gel é sempre refrescado com a água que fica no para-brisas do seu Ford Fiesta. Axe é a limpeza diária e as codeas de sairro que começam a ficar ameaçadoramente expressivas na parte do pescoço, fazem lembrar marcas do solário.

Nelinho tem levado a sua moça para a noite. E estranhamente sempre que sai com ela, passados três quartos de hora, a casa fica cheia. De gaijos.

Seja a que estabelecimento nocturno for. Quando sai sozinho, tal coisa não acontece.

Mas bronco como é, o Nelinho nunca reparou nesta pequena nuance da noite.

O estranho efeito magnético da sua fêmea.

“Fodasse para o raio da gaija!” Queixa-se o Nelinho para o bartender, “Ela nunca mais chega da casa de banho! Vai de dez em dez minutos! É sempre assim quando saímos! Dasse!”

O bartender, já conhece a peça. E também conhece a Xiquinha, a namorada do cromo. Ainda hoje a viu com o seu lindo sorriso matreiro de orelha a orelha quando ela o fitou com um olhar lânguido descendo as escadas em direcção á casinha.

Chega a Xiquinha a ajeitar o cabelo, brilhante e sedoso. Pede uma batida de coco, bebe um trago e agarra-se ao Nelinho. Beija-o repetidamente durante cinco minutos.

Estranho, por mais batida de coco que a Xiquinha beba, o Nelinho sente sempre um trago estranho no paladar dos beijos da sua namorada. Um sabor estranho. Com um aroma semelhante aquele que fica nas colheres de aço inox, quando as lambemos e metemos á boca durante um minuto.

Estranho. Nunca ligou muito a isso. Mas estranho.

Xiquinha acaba mais um copo de batida de coco e vai de novo á casa de banho, enquanto o parolo torce os olhos de saturação.

O Nelinho nunca mijava. Nunca. Até hoje. A merda dos amendoins e dos beijos sequilharam-lhe a boca e teve que enfardar directamente quatro finos de seguida. Sem contar com o infindável numero de enjoativos wisky-colas que absorveu como uma esponja. Tava aflitinho. Tem de ir á casinha.

Tem de ir.

Levanta-se e dirige-se á casinha. Enquanto desce as escadas, repara que a Xiquinha dirige-se para o wc masculino.

“Fodasse! Ela vai para os mijadouros dos gaijos?? Ela não é um gaijo!” De súbito, um arrepio na espinha assusta o nosso parolo. Será que a Xiquinha é na realidade um Xiquinho? Com uma mudança de sexo? Aquela pomVa perfeitinha que ela tem entre as pernas, que merecia estar num museu, sempre intrigou o nabo. Como é possível ser tão perfeita?

Agora julga ele ter uma resposta.

Tenta chegar á casa de banho mas não consegue por causa da interminável fila de gaijos que lá está. Tenta passar á frente mas só leva insultos dos outros grunhos que lá estão á espera de entrar.

“Espera como nós ó filhadapúúúútá! Parto-te essa voca meu cabrõm!”

Chega o segurança e ameaça porrada. Nelinho é obrigado a esperar.

Espera.

Espera.

Espera.

O suor cai-lhe pela testa. A puta da gaija ou gaijo, sabe-se lá, nunca mais sai. O stress sobe-lhe á cabeça e empurra os gajos que estão á porta e entra á força. Despenteado, camisa com a fralda de fora e um sapato meio saído, Nelinho olha para os urinóis.

Lá está a Xiquinha.

Junto á parede que resguarda os urinóis vê a linda namorada.

De joelhos, lambuza-se a abocanhar um marsápio raquitico dum gordo suado, enquanto esfrega a pixa a dois trolhas risonhos. Com uma sofreguidão pelintra, engole todo o molho de tomate que os grunhos lhe esguicham.

Com um gesto, Nelinho saca a pixa do gordo da boca da namorada, mesmo quando ele estava a mandar cá para fora, ficando com as mãos besuntadas.

“ÉÉÉÉÉ!” Berram os grunhos que levou com o esguicho do gordo no fucinho.

De súbito, entram os seguranças que arrastam o Nelinho para fora da casa de banho. Atiram com ele para a rua e dão-lhe uma carga de porrada, que é para aprender a não estragar o divertimento dos outros.

Deitado no chão a nadar na lama, Nelinho, percebe finalmente a razão daquele paladar estranho.

Percebe porque é que os discos ficam cheias quando sai com a gaija.

Mas mesmo assim não ficou em paz.

A dúvida persiste.

1 comentário:

Anónimo disse...

Uuuuuiiii...muuuiito MAU--PARTE II!!
heheheh...
reiDArussia.

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