A aplicação teórica de assuntos práticos e relativos á questão do ser adjudicado à alma do animal que nasce dentro de todos nós.

domingo, janeiro 21, 2007

Sagradinho

Sentada, com as pernas esticadas para cima, apenas as cuecas pretas contrastam com a napa beije do sofá completamente babado de saliva vinda de boca trémula.

Os olhos fixos, obsessivos e expectantes, estão praticamente a saltar das orbitas ao ver a cueca, a escorrer suavemente pelas pernas acima e revelando o que já aparentava ser algo de ordem divina.


Sem se controlar, tal emoção fez-lhe com que tivesse uma gigantesca descarga de monco nasal, prontamente esfregada com as costas da mão que segura o terço.

Ao ver cona tão rechonchuda, achou que devia rezar três pai-nosso, para agradecer tão boa aventurança.

De olhos torcidos para cima e braços voltados aos céus em clamor ao Senhor, enquanto rezava, só lhe vinham á cabeça as imagens que viu num panfleto originário da propaganda geová dos anos setenta, onde um leãozinho brinca alegremente com um bebé na garupa e corre dum cabritinho que o persegue sorridente, participando numa partida de apanhada.

Num tom aparentemente agradecido afirma cheio duma arrogância beata, carregado da certeza de que as portas do paraíso estão para ele abertas proclama nas alturas, “Oh louvado seja o nome do Senhor!”.

De repente, os achaques de beatisse que lhe assombram as ideias voltam ao ataque com novas teologias vindas duma inspiração conal.

“Mas será que tal coisinha sagradinha deve ser sequer tocada?” com os olhos brilhantes, húmidos de lágrimas de jubilo e alegria, continua, “Não deverias ser adorada, oh perfeita geometria, tal qual adoramos as figuras de barro que pululam por ai fora? Oh que se me fez uma luz no meu peito,…… …… …. . …… . … …. ..

..

……… … ……… . … . ……….. … . . … . .


O calcanhar que lhe entrou pela cara dentro partiu-lhe a cana do nariz e entortou três dentes.

Parece que o tempo de adoração tinha acabado e não passou á acção, provocando a ira demoníaca da sagrada criatura que se fartou de esperar para ser comida.

Quando acorda, completamente grogue, arrasta-se ao bidé onde lava a cara com água escaldante e num só gesto arruma a cana do nariz para o sítio acompanhado por um urro, mesmo como nos filmes de porrada.
Enquanto deixa escorrer o sangue escuro da boca e do nariz, tenta lembrar-se do que se passou.

Alegre, acaba por descobrir o que a porta para o céu e para o inferno é a mesma, e ele esteve a bafejar as orações de agradecimento a escassos centímetros duma dessas portinhas.

Oh Sorte.

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