Perversa até ao extremo, Toninha, adolescente com um buço felpudo bastante carismático e estimado pelos broxados que foi deixando pelo caminho da sua ainda curta vida, decide arriscar uma punheta em frente a mais de cem fieis.
Ajoelhados junto ao padre, Toninha consegue um esquema de enfiar a mão pela braguilha do Toninho sem dar muito nas vistas. O parolo é que parece que nunca consegue disfarçar a cara de espanto com que fica durante o salmo. Não há o que fazer. Caso tenha a ousadia de se levantar, dá um show de arregalar a vistinha ás velhotas esfomeadas que pululam pela paróquia e que aproveitam todas as missas para expoliar as mucosas nasais com ressonância e resultados viscosos num lenço já demasiado usado para conseguir existir.
Se ousar se mexer sequer, o padre pode olhar para trás e ai é o trinta e um, pois alem dos ciúmes de falta de mão amiga para soltar a pressão acumulada durante os anos de seminário, a não ser que usasse as suas ou as dos colegas como muitos fazem sempre que a vontade aperta, podia excomungar o Toninho para sempre da sua tarefa de que tanto gosta.
É a vida que tem de aceitar. Oferece o sacrifício ás almas do purgatório no momento em que se vem e esguicha a esporra peganhenta acertando em cheio no sapato preto de verniz do padre. Mas um lanho medonho, branco gordo e pegajoso que decidiu afincar mesmo em cima do sapatinho encimado por uma meiínha de renda branquinha para ser fresquinho.
A Toninha abafa o riso por trás do buço felpudo, sua imagem de marca.
Mas o pior vem ai.
O padre vai descer do altar para levar a comunhão aos fieis e o sapato leva selo.
Enquanto a Toninha segura na patena, repara que as velhotas que vêem a olhar para o chão e reparam no sapato do padre, ficam com os olhos arregalados e com um ligeiro sorriso demoníaco no canto da boca.
O padre volta e termina a missa. Sem reparar no que tem no sapato sai e no caminho para casa, um cão lambe-lhe o sapato retirando os vestígios da punheta herege.
Está farto daquela vida. É a sua vocação, adora aquilo mas os tomates cheios…
É uma seca.
No encontro bíblico, onde as mulheres se juntam para ler a bíblia, elas não falam de outra coisa que lhes causou grande tesão durante a sessão eucarística.
“Tomates cheios, coitadinho do padre” conspiram as velhotas e o resto das mulheres novas e casadas que toparam a cena. “Aquilo deve ter explodido quando viu o decote da irmã do meu cunhado!”
A atenção dada pelas caridosas senhoras do encontro bíblico tornaram a insuflar o entusiasmo do jovem padre que passou a dar missa com outro fulgor.
O Toninho ajuda na missa.
A Toninha ajuda na missa também.
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