A aplicação teórica de assuntos práticos e relativos á questão do ser adjudicado à alma do animal que nasce dentro de todos nós.

domingo, agosto 20, 2006

A Prima.

Não é só o calor abafado que queima o rabo nos estofos de napa beije do Citroen que enche o carro. É também o berreiro inaudível do locutor de rádio que vai vomitanto frases inteiras apenas compreendidas por ouvidos treinados num quartel militar, que abafa qualquer tentativa de conversa, de queixa ou de pedido para ir á casinha da próxima bomba de gasolina.

A luz directa aquece ainda mais os cozinhados metidos na mala do Citroen. Cestas inteiras atestadas até cima com panados, bolinhos de bacalhau, ovos cozidos e todo o tipo de enchidos, preenchem o ar com um cheiro pastoso, denso, difícil de distinguir como as cores na paleta dum pintor com Parkinson.


No banco de trás, a bisavó velhota está sentada na ponta da direita a dormir com a cabeça encostada ao vidro da porta. Sua por todos os lados, impulsionada pelas roupas negras que veste.

No meio vai o panelão de arroz de cabidela praticamente a ferver embrulhado em jornais para conservar o arroz quente.

No lado esquerdo vou eu.

Em cima de mim vai a minha prima boa.


Todos os anos como é tradição, há um piquenique na praia. Enchem-se os carros com o farnel, com os putos, com os brinquedos, mesas, toalhas, e sei lá que mais. Tudo o que há em casa desde a baixela de porcelana até á toalha de linho, guardado tudo para aquele dia com o intuito de mostrar aos parolos da plebe que nós somos os maiores e temos classe. Nos dias normais, quando ninguém vê, usam-se os pratos comprados na feira aos ciganos, aqueles pratos castanhos vidrados com uma circunferência preta no meio.

Segue-se aqui a filosofia do que é bom é para se mostrar.

Mas o ponto alto destas idas á praia é sem duvida o arroz de cabidela, onde á mistura com alguns grãos de areia que saltam para a panela por causa do vento agreste das praias do norte, vai-se esbixando fervorozamente a anatomia do galinácio de pouca sorte. Os ossinhos do frango são enterrados como bandeirinhas em filinha na areia para mostrar quem come mais.

No fim do almoço, há que deitar ao sol a jibóiar aquela comida toda e os garrafões de verde tinto carrascão que foram abatidos sem dó nem piedade.


Este ano a prima boa teve que ir no meu colo. Não havia mais espaço por causa do panelão de arroz cabidela.

O calor está cada vez mais forte e a prima boa ainda faz suar mais.

Sentada com o rabo rijinho em cima das minhas pernas, a sacaninha apenas com um pequeno vestido de saia de roda florido e um bikini reduzido por baixo, vai-se chegando, arrantando lentamente as nádegas suadas para cima da zona de perigo, como quem não quer nada.

Fecho os olhos com toda a força que tenho e no fundo do meu pensamento vou berrando para mim mesmo.

“Pensa em coisas tristes… Pensa em coisas tristes… Não levantes meu filhodaputa…”


Nem o berreiro do relato do Vitória de Guimarães - Benfica consegue manter a gaita deprimida. No mesmo momento em que a sacaninha da prima boa, com um sorrizinho matreiro olha de canto com um olhar guloso para o reflexo da minha cara no vidro da porta, arrasta o rabo redondo até eu sentir uma coisa ainda mais quente e palpitante do que o resto do seu corpo lânguido.

Não há hipótese. Ora fodasse vou passar vergonha.

Num ápice a pixota passa de criatura invertebrada a um tiranossaurus rex.

“Ó que caralho, porquê que não trouxe uns calções apertados? Ela agora vai sentir a gaita a encaixar nas virilhas dela!”

Os calções larguinhos, porreiros para deixar entrar o ar fresco e arejar as partes baixas são o ideal para os dias de calor extremo como este dento do carro. Mas não são os mais indicados para quando temos uma prima boa em trajes menores a roçar o rabo e a cona lambona em cima do nosso colo. Não são não senhor.

A pila extremamente gorda e com as veias quase a arrebentar está literalmente encostada á pele da coxa, a pressionar com grande pressão a carne macia da prima boa.

A sacaninha enquanto se foi chegando lentamente para trás, foi também arrastando com o rabo os calções para cima. Sentada com a saia de roda aberta sobre o meu colo, nem por isso que a pôs a resguardar o rabo dela, a assanhada do caralho!

É que agora neste momento o que separa o meu chouriço, que já dói de tão duro que está, da pachacha gorda da prima boa é apenas uma reduzida tira de pano a que chamam bikini.

A prima boa, num acto de ousadia, mete discretamente a mão por baixo da saia e puxa o bikini para o lado, deixando o caminho livre.

Com um ligeiro movimento, inclina-se para a frente, como se para disfarçar, fosse apanhar algo no chão.


A bisavó abre ligeiramente os olhos e de canto parece-lhe ver a bisneta de longos cabelos negros e encaracolados a executar suaves movimentos pélvicos circulares em cima do bisneto corado e de olhos arregalados. O panelão escaldante de cabidela que está á frente não deixa ver mais nada.

Adormece.

O seu sono leva-a aos seus verdes quinze anos, quando era uma moçoila esbelta exactamente como a sua bisnetinha.

Na parte de trás dum carro de bois carregado de palha, que lentamente vai rolando pelos caminhos cheios de calhaus e lama, ela sentada em cima do primo, no meio da palha esgalha violentamente o mangalho do rapazinho completamente enrascado e receoso de ser descoberto pelos familiares que vão á frente a encaminhar os bois com uma vara de madeira.

Enquanto o vento que entra pela janela semi aberta lhe apazigua a angustia do calor, um sorriso aparece na sua linda cara antiga. Algo lhe fez refrescar a alma.

Recordar é viver.

1 comentário:

Anónimo disse...

uiii...qtas vezes não temos que pensar em "coisas tristes"...pena é a falta das primas boas...não ser a dos outros!!Dá-se sempre um jeito...Boa história, foi comer de manha à noite...sortudo!!!1º o pito da prima e dp o pito da panela, ehehehe...(TOP mais uma vez, parabéns!)
ass:KING da RUSSIA

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