A aplicação teórica de assuntos práticos e relativos á questão do ser adjudicado à alma do animal que nasce dentro de todos nós.

segunda-feira, junho 11, 2007

Besunta.

Duas da tarde de verão. Sol directo. Abrasador.

O hipódromo poeirento, cheio de povo besuntado por uma mistura de pó barrento e suores corporais, torce, berra, expelindo perdigotos e fios de cuspe que acabam por besuntar mais ainda o cachaço sairrento e empapado do sujeito da frente.

Dissimulado no meio da multidão histérica, com um bilhete de apostas amarfanhado na mão está o Besunta., tipo baixinho, de cabelo ralo pelo excesso de testosterona e olhos esbugalhados.

O Besunta é um besunta de primeira categoria e provavelmente deve ser o grão-mestre da real ordem maçónica dos besuntas. Esta espécie de personagens caracterizam-se principalmente pela completa falta de ética para alcançar os seus objectivos. Mas o que os diferenciam de outros cabrões é a forma de agir. Um besunta nunca confronta directamente um adversário. Ele dá graxa. Procura sempre o caminho diplomático para tramar quem quer que se meta no seu caminho, sabendo sempre quando atacar.

Andam por todo lado. Mas atenção. Não confundir com um bzunta. Estes são os tipos que fodem de meias. Até podem ser boas pessoas.

As pingas de suor vão escorrendo como cera derretida pela testa reluzente do Besunta.

O stress cresce dentro dele á medida que o cavalo em que apostou vai, ofegante de pescoço esticado a galopar, doido, para chegar á meta.

Apostou muito nesta corrida e tem de ganhar.

Também ao trabalhão que teve para assegurar a vitória, mau é se aquela pileca não vence.

Horas antes da corrida, o Besunta, sorrateiro entra pé ante pé, no estabulo onde estavam a descansar os cavalos, desloca-se pelas sombras, evita movimentos bruscos e qual ninja, aproxima-se de mansinho dum alazão.

Olha á sua volta e certifica-se de que os tratadores e os jóqueis não estão por perto.

Então, qual ordenhador cavalar, começa a esfregar carinhosamente a pilinha do equídeo. Passados alguns minutos, já com um barrote de carnuça nas mãos, o Besunta apercebe-se de que o animal está prestes a ter um momento feliz, e com amor interesseiro aperta-lhe os colhões para cima de forma a esvazia-los melhor.

Repete a operação punhetal em todos os cavalos.

Excepto um.

O que vai apostar não teve o tratamento especial.

Realizado e confiante, então segue para o guiché das apostas e põe metade do seu dinheiro no Piriquito, o desgraçado que não foi esfregado.

Sobe para as bancadas, com os sapatos e as meias um bocado ensopados de uma gosma peganhenta que se cola aos pêlos das pernas felpudas, senta-se e espera pela corrida.

Quando é dado o tiro de partida, os cavalos estão todos molengões, como se não lhes apetecesse correr.Como se estivessem a fazer um frete dos maiores.

De nada adiantam as chibatadas mandadas pelo jóquei furioso, de rabo levantado e dentes arreganhados.

O Piriquito, o cavalo da sorte, está quase a dar uma volta de adianto, quando azar dos azares, escorrega numa bosta deixada por um concorrente na corrida anterior.

Neste momento o Besunta vê a sua vida a andar para tás. O Piriquito, não se magoou nem o jóquei, mas estão meios taralhoucos a espernear no chão e a tentar levantarem-se.

Entretanto, passam os molengões de pila gorda a pingar fios de gosma prostatiana.

Com as mãos na testa, em sinal de desespero, Besunta vê metade do seu ordenado a ir pela sarjeta.

Está completamente fudido.

Vai levar na boca quando chegar a casa e a mulher lhe perguntar onde é que está o dinheiro para pagar as mamas de silicone que quer por para agradar ao patrão a ver se lhe saca á força de fodas mamalhais uns bónus e umas promoções.

O desespero apodera-se do baixinho, aninhado, agarrado á cabeça no meio da multidão apoteótica.

De súbito lembra-se que só apostou metade.

Ainda há uma esperança.

Furando por entre a massa de povo compacta das bancadas, Besunta dirige-se de novo aos estábulos.

Lá, os tratadores acham estranho os cavalos da corrida anterior andarem muito molengões e com a pichota toda gorda. Um deles repara nas litradas esbranquiçadas que inundam as boxes onde estavam os simpáticos bichinhos.

“Merda! Que vou fazer agora??” pensa arduamente o Besunta, “Tenho que ganhar desta vez e não posso deixar provas!”

Entretanto, os tratadores pensando que aquilo fora um ataque de tesão que os cavalos tiveram por causa das éguas no cio que passaram por perto, vão beber umas minis ao tasco do hipódromo.

O Besunta tem pouco tempo.

O Besunta não pode deixar vestígios.

O Besunta tem de ganhar, custe o que custar.

O Besunta tem a jogar ainda uma ultima cartada.

A sua arma secreta, que teme em usar.

Sorrateiro, desliza como um animal invertebrado para os estábulos. Lá aproxima-se dos cavalos frescos, prontos para a próxima corrida e prepara-se para o golpe de misericórdia.

Com um pequeno movimento, inclina-se, abre a boca e gulosamente abocanha o marsápio aterrorizador do alazão, que arreguila subitamente os olhos negros.

Passadas algumas bombadas, sugadelas rítmicas executadas com afinco pelo Besunta, o cavalinho arreganha os dentes e os olhos quase saltam das orbitas.

O Besunta, de bochechas cheias e com esporra a sair-lhe pelo nariz, engole tudo duma assentada só e funga para dentro o que lhe está a pingar na penca.

Aquilo até que nem foi mau, achou ele. Pareceu que engoliu uma ostra gigante, e como tal, como ostra é comida chique, até nem foi grande sacrifício.

Os próximos sete cavalos foram eximiamente sugados e respectivamente deglutidos para não deixar provas.

Torna ao guiché das apostas. É desta que vai ganhar.

Atrás de si, está o Caga-na-Saquinha, seu arqui-inimigo.

Um caga-na-saquinha, pertence á mesma espécie do Besunta, mas é muito mais perigoso.

Geralmente gay, estes indivíduos agrupam em si os piores defeitos encontrados nos dois sexos.

A obstinação dum gaijo e a teimosia duma gaija é característica dominante.

Para fazer birras não há como eles e escândalos ainda pior. Não perdem a oportunidade de queimar um besunta ou outro qualquer em publico com o maior dos shows de cabaret.

Um facto curioso nos caga-na-saquinha é o tique que teem de realmente cagarem numa saquinha de plástico sempre que estão fora de casa, darem um nozinho na saca plástica e levar o cocó para casa. É algo inerente a estas personagens.

Mas agora não interessa.

O Besunta, obcecado, nervoso, volta filado para as bancadas.

Lá, o Caga-na-Saquinha senta-se imediatamente á frente.

Está um calor descomunal.

O cheiro intenso a sovaco recesso da horda nas bancadas provoca um aperto no estômago repleto de proteína cavalar.

Começa a corrida.

O Besunta, enjoado e ao mesmo tempo nervoso mal repara nos cavalos que correm todos molengões, com a excepção do Currupáco, o lingrinhas esquelético que não teve o direito a aliviar-se nas suas bochechas.

De repente tudo começa a andar á roda. De nada adianta respirar fundo para passar o enjoo.

Olha dum lado para o outro. Passa a mão pela testa suada, vira-se e ainda se enjoa mais com um sovaco peludo, ensebado com uma carraça pendurada.

Subitamente, fora do seu controle, Besunta larga uma golfada titânica de vómito esporrático, qual mangueira dos bombeiros, para as costas do Caga-na-Saquinha.

Este vira-se todo irritado duma forma algo abixanada, e leva com outra golfada peganhenta mesmo no focinho.

Entretanto o Currupaco ganha a corrida. O cavalo mais lingrinhas em ninguém apostou. O Besunta está milionário mas nem sabe disso, tamanha é a sua aflição de vomitar.

Toda a multidão está a apupar o cavalo vencedor, quando de repente um grito extridente e extremamente gay faz-se ouvir em todo o hipódromo.

“É espoooooooorraaa! Filhodaputa andaste a mamar nos cavalos meu cabrãããããão”.

O Caga-na-Saquinha, não se percebe se por ciúme ou se por ficar fudido por lhe vomitares em cima, ou descobrir a manha, berra e denuncia o Besunta.

As más línguas que povoam os tascos deste Portugal fora dizem que é por ciúme, e cheios de razão.

Mas o que aconteceu foi que os tratadores dos cavalos descobriram o esquema do Besunta e foi-lhe confiscada a aposta. Alem do mais está proibido de entrar em qualquer hipódromo que seja.

Derreado, chega a casa sem um chavo. A mulher, que estava á espera do dinheiro para as mamas novas, investimento a médio prazo para ascensão de carreira laboral, põe-lhe as malas á porta.

A vida correu mal para este besunta.

Actualmente é visto nas corridas de galgos, onde tem conseguido ganhar uns trocos. Aos poucos vai recuperando o que perdeu.

Não perde uma corrida.

Um Besunta nunca desiste. Tem sempre um trunfo na manga.

6 comentários:

Anónimo disse...

que nojo...

fax.m lembrar uma historia q uma x escrevi :p

mas nunca postei. duvido msm q venha a postar lol

pa qd as curtas metragens das tuas historias? ;)

abc

Moura ao Luar disse...

N tive tempo pa ler, mas deixo beijo

Anónimo disse...

Blhec, ahahahahah
marabilhosamente nojento :D
Bjo

Láu disse...

Manu...
Mais uma obra de arte hiper-realista e até um pouco romântica no sentido artístico!
Mas acho que devias patentear a ideia do Bokaki Hequídio, aínda ganhavas umas massas. Que depois podias apostar nas corridas de cavalos!!!

Só não percebi bem a parte do sabor a ostras... Tou a ver que fizeste um estudo de campo sobre a matéria.
LOLLLLL

Abraço

Mafaldinha disse...

Moral da história: há besuntas f*didos!! ahahah...
Gostei.
Principalmente porque algo me diz que existe uma mensagem mais profunda nesta historia... só não consigo decifrar qual :) e o exercício de racíocinio que provoca este texto...pah... fascina-me! LOL
*bj

Nilredloh disse...

LOL!!:)

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