A aplicação teórica de assuntos práticos e relativos á questão do ser adjudicado à alma do animal que nasce dentro de todos nós.

quinta-feira, junho 28, 2007

Pedras Húmidas.

Ás vezes, mesmo quando o sol brilha furioso, o frio apodera-se dos penedos húmidos, musguentos, antropomórficos, que jazem perto da casa de madeira de cedro onde vive o velho do Gerez.

Ás vezes, apesar de estar calor, o velho do Gerez, acende a lareira apenas para vislumbrar a chama alaranjada e ver a resina do pedaço fumegante, ainda um bocado verde, escorrer borbulhante pelos veios da madeira.

Durante estes momentos, enquanto o sol passa tímido pelas copas espessas do arvoredo denso, pelos ouriços dos castanheiros, pelas bolotas dos carvalhos, e projecta a lenta sombra pelo chão repleto de caruma e folhas ensopadas pela humidade, o velho do Gerez, passa as velhas e experientes mãos pelas longas barbas grisalhas, crespas pela humidade perfumada do cedro, pensa pacientemente em como é capaz de resolver mais um dos problemas da humanidade.

Intriga-se como são capazes, as mulheres, de conhecer a personalidade de qualquer outra pessoa apenas no primeiro momento, impossível de ser quantificado, em que se conhecem, ou apenas pela troca de um olhar.

Com a mão esquerda sobre a testa vincada pelos anos de tanto cismar na peculiaridade da humanidade, e a outra vigorosamente afincada no membro punheteiro, o velho do Gerez, está crente de que elas são, sem duvida alguma, criaturas de poderes superiores e de uma sensibilidade universal.

Ou será que não?

Uma dúvida, inesperada, assalta a calejada alma do filósofo punhetante.

De súbito, ao ouvir um melro que se engasgou com saliva ao tentar chilrear uma ode á sua amada, pousada do galho mais alto do castanheiro mais velho da serra, apercebeu-se de que se calhar andava enganado durante este tempo todo.

Com um desvio no olhar, vê pela janela que a companheira do melro levantou voo no momento em que ele tosse e puxa o catarro para tentar-se desengasgar e voltar á corte.

Neste momento fez-se a luz que tanto esperava.

Afinal, não é tudo uma questão de superioridade, é uma questão de feminismo ressabiado.

Um alívio fez-se sentir dentro daquela cabana de madeira de cedro. O velho do Gerez, trouxe mais uma vez sabedoria ao mundo.

Enquanto limpa a mão besuntada á toalha de linho centenária, herdada de geração em geração, prepara-se para ir tomar banho ao rio que passa junto aos penedos.

Está calor lá fora.

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