A aplicação teórica de assuntos práticos e relativos á questão do ser adjudicado à alma do animal que nasce dentro de todos nós.

quinta-feira, julho 19, 2007

Os Inóticos, capitulo 1 parte 2

Já passava das nove horas e Rété, assim chamado por quem o rodeia, por ser um cagarolas de primeira, ainda não se recompôs dos pesadelos que teve na noite anterior. Tudo culpa das histórias horríveis que a sua avó conta aos netinhos, e Rété, apesar de já ter vinte anos, ainda tem mais medo do que os seus priminhos e irmãos mais novos.
Rété, aliás, Joaquim Rota vive desde a sua tenra infância numa aldeola perto da cidade. Partilha a casa com os seus pais e mais sete irmãos. Actualmente está desem­pregado, coisa que desagrada imenso ao seu pai. Mas, pobrezinho, o que ele mais quer na vida é ser detective. Tem no entanto um problema: medo dos ladrões!
Apesar de ainda estar abalado, Rété levantou-se da sua cama de ferro pintada de branco com uma trincha e com um colchão de molas que range toda a noite. Vestiu umas calças de ganga azuis e uma camisa branca com quadradinhos azuis e roxos. Saiu do quarto a pentear o cabelo com os dedos, facto este a que ele dava pouca importância e foi para a cozinha onde já estava toda a gente à mesa. A cozinha é de um estilo an­tigo, tradicional nas casas de agricultores do norte, com uma enorme lareira numa das paredes onde se penduram os chouriços e os presuntos, onde ficam vários meses a apa­nhar o fumo para secarem.
Rété, senta-se à mesa e cumprimenta a sua família.
— Bom dia Paisinho, bom dia Mãesinha, bom dia Ritinha, bom dia Ruisinho, bom dia Zézinho, bom dia Aninha, bom dia Rosinha, bom dia Chiquinho e bom dia Luisinho.
O seu pai, um homem de poucos abusos disse-lhe logo:
— Isto é que são horas de se levantar? Tu como irmão mais velho devias dar o exemplo aos teus irmãos ao levantares-te mais cedo!
— Mas paisinho, dormi muito mal! — disse Rété cabisbaixo.
— Andas outra vez com esses pesadelos das histórias que a tua avó te conta? É? — perguntou o senhor Rota num tom severo.
— É sim paisinho...
— Pronto! É o que eu temia! O meu filho é maricas!
— Não sou não paisinho — respondeu Rété quase a chorar.
— Vamos já acabar com isto! — ralhou a dona Ilda, a mãe do Rété — já nem de manhã se tem sossego ?
— Eu já sei um bom remédio para este filho transviado! — disse o senhor Rota.
— Eu não sou transviado! — guinchou Rété enquanto torcia um guardanapo com as mãos.
— Vamos já acabar com este chinfrim que eu já estou a ficar farta!
— Tu vais é trabalhar! O trabalho vai fazer de ti um homem e vais procurar tra­balho hoje mesmo. Senão já sabes o que te acontece!
— Mas paisinho, o senhor já sabe do meu problema de sinusite!
— Não quero desculpas. Vais procurar trabalho hoje mesmo!
— Sim paisinho, como queira.

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