Já passava das nove horas e Rété, assim chamado por quem o rodeia, por ser um cagarolas de primeira, ainda não se recompôs dos pesadelos que teve na noite anterior. Tudo culpa das histórias horríveis que a sua avó conta aos netinhos, e Rété, apesar de já ter vinte anos, ainda tem mais medo do que os seus priminhos e irmãos mais novos.
Rété, aliás, Joaquim Rota vive desde a sua tenra infância numa aldeola perto da cidade. Partilha a casa com os seus pais e mais sete irmãos. Actualmente está desempregado, coisa que desagrada imenso ao seu pai. Mas, pobrezinho, o que ele mais quer na vida é ser detective. Tem no entanto um problema: medo dos ladrões!
Apesar de ainda estar abalado, Rété levantou-se da sua cama de ferro pintada de branco com uma trincha e com um colchão de molas que range toda a noite. Vestiu umas calças de ganga azuis e uma camisa branca com quadradinhos azuis e roxos. Saiu do quarto a pentear o cabelo com os dedos, facto este a que ele dava pouca importância e foi para a cozinha onde já estava toda a gente à mesa. A cozinha é de um estilo antigo, tradicional nas casas de agricultores do norte, com uma enorme lareira numa das paredes onde se penduram os chouriços e os presuntos, onde ficam vários meses a apanhar o fumo para secarem.
Rété, senta-se à mesa e cumprimenta a sua família.
— Bom dia Paisinho, bom dia Mãesinha, bom dia Ritinha, bom dia Ruisinho, bom dia Zézinho, bom dia Aninha, bom dia Rosinha, bom dia Chiquinho e bom dia Luisinho.
O seu pai, um homem de poucos abusos disse-lhe logo:
— Isto é que são horas de se levantar? Tu como irmão mais velho devias dar o exemplo aos teus irmãos ao levantares-te mais cedo!
— Mas paisinho, dormi muito mal! — disse Rété cabisbaixo.
— Andas outra vez com esses pesadelos das histórias que a tua avó te conta? É? — perguntou o senhor Rota num tom severo.
— É sim paisinho...
— Pronto! É o que eu temia! O meu filho é maricas!
— Não sou não paisinho — respondeu Rété quase a chorar.
— Vamos já acabar com isto! — ralhou a dona Ilda, a mãe do Rété — já nem de manhã se tem sossego ?
— Eu já sei um bom remédio para este filho transviado! — disse o senhor Rota.
— Eu não sou transviado! — guinchou Rété enquanto torcia um guardanapo com as mãos.
— Vamos já acabar com este chinfrim que eu já estou a ficar farta!
— Tu vais é trabalhar! O trabalho vai fazer de ti um homem e vais procurar trabalho hoje mesmo. Senão já sabes o que te acontece!
— Mas paisinho, o senhor já sabe do meu problema de sinusite!
— Não quero desculpas. Vais procurar trabalho hoje mesmo!
— Sim paisinho, como queira.
A aplicação teórica de assuntos práticos e relativos á questão do ser adjudicado à alma do animal que nasce dentro de todos nós.
Menu
- Contos (18)
- Contos Pequenos (22)
- Inacabados (7)
- Lições (9)
- Livro "Crónicas de Autocarro" (1)
- Livro Kindle em Português (1)
- Merdices (12)
- Micro-Biografias (5)
- Opinião (19)
- Os Inóticos. (9)
- Paranço da Boneca (31)
- Teorias (8)
- Textos Fraquinhos (2)
- TV Má-Onda. (7)
quinta-feira, julho 19, 2007
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Prémios

Gente Interessada em Cultura de Topo
Arquivo do blogue
-
▼
2007
(47)
-
▼
julho
(12)
- Os Inóticos Parte 1 Capitulo 7
- Simpsonize me
- Os Inóticos, Parte 1 Capitulo 6
- Os Inóticos Parte 1 Capitulo 5
- Os Inóticos Parte 1 Capitulo 4
- Os Inóticos. Capitulo 1 Parte 3
- Os Inóticos, capitulo 1 parte 2
- Heeei! CATRAPÚS!! ó fuadasse, escorreguei na merda!
- O Blog da minha Irmã.
- Os Inóticos Capitulo 1 Parte 1
- Os Inóticos. Parte Zero.
- Vão distribuir metadona para voces meus viciados!
-
▼
julho
(12)
Quem é o coiso?
- Má-Onda
- Guimarães, Minho, Portugal
Sem comentários:
Enviar um comentário